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Que história é essa, Caetano?

  • Writer: Neris Reis
    Neris Reis
  • Aug 28, 2020
  • 14 min read

Assim como no texto inaugural, essa história eu tinha guardado para outro momento. Dessa vez não para a Folha ou outro portal, mas sim para contar para o meu amigo imaginário Fábio Porchat. Mas como ele anda muito ocupado e talvez esse momento possa demorar ou até mesmo nunca chegar, resolvi escrever porque acho que meu grande público merece ouvir/ler em primeira mão antes que a história pereça e perca boa parte da graça.


Quem me conhece... Um adendo importante: eu odeio quando alguém vem com esse papinho de quem “quem me conhece”, geralmente pra justificar uma merda e tipo, foda-se, se você fez ou não fez a merda, pouco importa se te conhecem ou não, mas bora lá. Retomando. Quem me conhece sabe que sou um cara difícil para sair. Não curto lugares cheios, com música que não seja do meu agrado e principalmente pagar caro para comer e beber, além de eu ser uma pessoa que quando o sono bate, o sono bate, não importa a circunstância – fora que para ir embora é sempre um rolê a parte, às vezes mais caro que a ida por falta de pessoas para dividir a condução. Ao mesmo tempo em que, dependendo da circunstância e do dia, eu sou o cara do bora, não importa para onde. Ou seja, sou o famoso chato. Isso é importante para história.


Bom, tudo começou no fim de um namoro (é lógico, decisões erradas começam assim). E quem já passou por isso sabe que é um momento da vida meio paia, meio aleatório, tentando se encontrar no mundo de novo para seguir em frente. Na época eu trabalhava em uma agência de publicidade de Goiânia e não ganhava bem, apenas o suficiente para pagar as contas e contar as moedas para escolher algum lazer caso sobrasse algum cascalho. Foi no meio dessa fossa em que eu me encontrava que uma menina de Brasília que eu não conhecia direito puxou papo comigo no Instagram e me convidou para ir a um evento de cinéfilos ao ar livre em uma casa, em que veriam filmes do Tarantino (eu acho) e tomariam uma cervejinha, algo bem light e clichê. Minha mãe morava em Brasília, então eu teria onde ficar. Como estava numa bad sem fim, sem ânimo para sair para os mesmos lugares de Goiânia, pensei “por que não?”. Topei o convite.


Passamos a semana combinando, seria no sábado, começaria a tarde e seguiria noite adentro. Eu só precisava ver como ir para Brasília. Apesar de ser uma cidade próxima, os 50 reais do busão pesariam muito no meu orçamento já limitado. Até que na agência na qual eu trabalhava, ouvi um cara do atendimento, que por acaso também era da minha turma da faculdade, combinando uma ida para Brasília no final de semana para outro evento. Não éramos exatamente amigos próximos, mas como tínhamos uma boa relação e nos conhecíamos há bons anos, engoli o orgulho da vergonha e mendiguei uma carona. Ele animadíssimo falou que rolava, era só eu falar com a amiga dele que era a dona do carro da carona, cuja qual eu não conhecia. Falei com a motorista e ela também ficou animada e topou na hora, era só eu contribuir com uns 15 conto pra gasosa. Economias feitas, logística programada para o role inusitado e todos animados, tudo certo para a aventura, certo? Não é bem assim.


Lá pela quinta-feira, a menina do Instagram, que me convidou com tanto afinco para esse evento, simplesmente sumiu, parou de responder minhas mensagens. Na sexta o sumiço continuou e percebi o perdido que eu tinha tomado. No sábado pela manhã, dia da viagem, nem me dei ao trabalho de preparar uma mochila. Mandei um zap para a moça da carona que logo em seguida me ligou. É aqui que começa a história.


Sem uma desculpa melhor para dar, já que falar que eu desanimei de última hora depois de pedir carona seria meio que uma sacanagem, resolvi falar a verdade. Aqui fica a dica: sempre fale a verdade, por mais humilhante que ela possa parecer. Contei que tinha combinado para ir a um evento com uma menina em Brasília que deu o perdido nos últimos dias, então eu não tinha mais o que fazer na Capital Federal. A moça da carona (vamos chamá-la de Joaninha para ficar mais fácil, nome fictício), que sequer me conhecia pessoalmente, falou que não tinha problema, que era para eu ir mesmo assim, que se eu animasse eu poderia ir ao mesmo evento que ela e seus amigos iriam, incluindo o carinha que trabalhava comigo (vamos chamá-lo de Rocha, nome fictício). Falei que não sabia, que eu não estava muito na vibe, afinal, tinha acabado de terminar um namoro recentemente e ir para um evento mais agitado estava fora de cogitação. Foi então que Joaninha disse que o evento era a festa de aniversário do Caetano Veloso.


Pô, como não levar em consideração comparecer simplesmente na festa de aniversário do Caetano Fuckin Veloso?! Arrumei a mochila e topei a carona, mas ainda não tinha certeza se iria à festa. No pior das hipóteses, eu aproveitaria o fim de semana para ficar no colo de mãinha.


Pé na estrada.


O carro tinha Joaninha, Rocha e outra pessoa que também estava pegando carona. Diferentemente do que pensei, não fiquei tão entusiasmado com a ideia de ir à festa de aniversário do Caetano, o meu astral estava mais para a bad do que para good vibes. Quando me deixaram na casa da minha mãe, pensei que o melhor a se fazer era realmente ficar quieto. Disse para o pessoal que entraria em contato informando da minha decisão, se iria ou não com eles para a festa.


Já no apartamento da minha mãe, praticamente só lanchei a tarde e dormi. Aqui um fato importante: o apartamento da minha mãe ficava em um prédio no meio de vários outros prédios extremamente idênticos em um setor chamado Cruzeiro Novo. Boa parte dos apartamentos dessa região são apartamentos funcionais do Exército Brasileiro, ou seja, apartamentos cedidos para militares morarem. O apartamento da minha mãe tinha uma planta padrão dos outros blocos – como eu sei disso, logo você saberá. E o apartamento dela era abarrotado de coisas em um espaço apertado, inclusive o quarto em que eu dormia.


Talvez pela semana de muito trabalho ou pela carga emocional que eu vivia ou pelos dois, dormi a tarde inteira e emendei a noite, acordando por volta das 20h. Acordei desesperado pensando “putz, a festa”. Tentei ligar para o Rocha, que não me atendeu. Pensei que a noite havia acabado e que eu tinha feito o meu melhor. Mas passada mais ou menos uma hora, o Rocha me ligou de volta dizendo que todo mundo havia dormido também e que só estavam acordando agora e ainda iriam se arrumar para a festa e que eu devia ir também. Até minha mãe olhou para mim e disse “você não ia sair?”. Constrangido por não estar aproveitando a minha juventude, me arrumei e chamei o Uber para ir até a casa em que o Rocha estava hospedado. Antes de sair, minha mãe me deu um molho com três chaves para entrar em casa na volta: uma para o portão de grade do prédio (cada bloco do Cruzeiro Novo era rodeado por um portão de grade), uma para a porta de vidro do hall de entrada que ficava logo após o portão e outra para a porta do apartamento em si.


Cheguei por volta das 22h no apartamento em uma das asas de Brasília que eu não fazia ideia de qual que era. Pensando que já estava atrasado, cheguei até apressado, mas me deparei com uma casa repleta de baianos que ainda estavam terminando de acordar para se arrumarem. Brasília tem dessas, uma hora você é goiano numa casa de potiguares e acaba parando em um reduto de baianos. Tem gente do Brasil inteiro nessa cidade, pensei. E como a programação era ir à festa de aniversário do Caetano Veloso, até que fazia sentido eu estar rodeado de baianos. No meio daquele sotaque carregado de salvador, eu assistia todo mundo falando com um gingado típico e em alta velocidade, comentando o jogo do Brasil de futebol feminino nas olimpíadas. “Essa Marta joga pá porra”, alguém disse. Eu ainda estava deslocado, todo matuto e sem jeito como sou, já que não conhecia ninguém ali além do Rocha, que àquela altura devia estar tomando banho. Finalmente alguém me ofereceu uma bebida “pegue naquela caixa de isopor, meu rei, tem copo na cozinha”. Fui seco na caixa de isopor para pegar uma lata de cerveja até que: Catuaba Selvagem.


Eu odeio catuaba. O gosto já me dá um pouco de ânsia, só o cheiro me dá refluxo, é realmente difícil de descer. Mas no meio da empolgação de todos em volta e daquela hospitalidade de estranhos que não me deviam nada, fiquei com vergonha de recusar, de parecer uma frescura da minha parte (que de fato era, convenhamos). Sorri, peguei meu copo, enchi de gelo e mandei ver na catuaba. O primeiro copo foi difícil de descer. Mas do segundo pra frente (deve ter sido uns 3 ou 4) desceu que foi uma beleza. Mesmo calado e no meu canto, já fiquei totalmente alegrinho, afinal de contas eu ia à festa de aniversário do Caetano Veloso!


Chegando a hora de chamar os Ubers para festa (com o tanto de pessoas reunidas tínhamos que ir em dois carros), alguém perguntou se todo mundo já estava com ingresso. Eu fiquei sem entender. “Ingresso? Que ingresso?” perguntei. O Rocha disse que não tinha problema, que era só comprar na porta. Como eu estava no grau e já estava “na chuva”, por que não “me molhar”? Não questionei mais e fui, mas não sem antes comentar “pô, esse Caetano Veloso anda capitalista pra cacete, cobrando ingresso pra festa de aniversário”. O Rocha riu e disse “você é engraçado demais”. Fiquei sem entender.


Fomos para o local da festa, já passava muito da meia noite. O local era uma espécie de píer muito bonito, com um barco de dois andares ancorado em algum desses lagos artificiais de Brasília. Enquanto todos com seus ingressos iam para entrada da festa, fui até a bilheteria. Valor do ingresso: 45 reais. Engoli seco. Perguntei se dividia o valor no cartão, afinal, eu era um publicitário fodido. Não só não dividia como o pagamento era só em dinheiro. O sangue desceu da cabeça. Já imaginei o constrangimento de ou ter que ir embora (e pagar sozinho uma fortuna de Uber), ou pedir dinheiro para alguém – qualquer opção era ruim naquela altura. Por algum milagre divino, abri a carteira e tinha exatamente o valor da entrada do ingresso em papel moeda. Entrei aliviado.


A festa era realmente boa, tocava músicas da tropicália, Novos Baianos, Jorge Ben e, claro, Caetano Veloso. Mas nem sinal do anfitrião. Fui ao bar da festa e tive outra surpresa: não era open bar, a bebida também tinha que ser paga – e o que havia de mais barato ali era long neck, que não era de fato barata. Procurei o Rocha, que já tinha sumido dentro da festa, e quando finalmente o encontrei, perguntei que horas seria o parabéns. Ele só riu da minha cara e disse pra eu aproveitar a festa. Olhei em volta, o estilo das pessoas e foi aí que a ficha caiu.


Aquilo até que poderia ser uma festa maneira, mas não parecia ser de forma alguma uma festa organizada pelo Caetano Veloso. Perguntei para um estranho do que se tratava de fato e explicaram que era uma festa chamada Odara, que já era tradicional e que aquela edição era especial em comemoração ao aniversário do Caetano Veloso. Ri de nervoso. Como fui ingênuo. Talvez se eu não tivesse tomado as catuabas antes eu teria ficado puto, mas não era o caso. Levei tudo numa boa e o riso de nervoso virou um riso de conformação. Comprei umas fichas de long neck (essas passavam no cartão) e fui aproveitar a festa do jeito que dava. Daí em diante só me lembro de flashs e por isso vou me atentar ao que me lembro com alguma clareza.


Como disse lá no início, quem me conhece sabe que sou uma pessoa que sente sono. Depois de ingerir tanto álcool e não comer nada (se a bebida era cara, o preço da comida ali era impraticável), comecei a ficar derrotado, mas me aguentei firme. O sol começou a nascer no horizonte e foi uma das paisagens mais bonitas que já vi na vida. Quando finalmente Rocha decidiu ir embora, fui com ele, já de dia. Eles pararam para comer alguma coisa em algum lugar que não faço ideia de onde é, e aí, meu amigo, já não dava mais para mim, a minha pilha interna se descarregou. Fiquei dormindo na cadeira enquanto os outros comiam. O Rocha ficou preocupado e foi falar comigo. Falei totalmente bêbado, mais de sono do que de bebida (mas também de bebida) que estava tudo bem. Fico imaginando qual credibilidade passei nessa hora. Dei meu celular para o Rocha e pedi para ele chamar um Uber para mim. Nessas horas é que eu me amo: eu havia anotado o endereço da minha mãe e deixado salvo de uma maneira fácil para caso de um blackout acontecesse dentro de mim. O Rocha chamou o Uber, me colocou dentro do carro, devolveu meu celular e disse preocupado: “amigo, se cuida”.


O caminho inteiro fui variando entre pescadas e cochilos leves, largado e segurado apenas pelo cinto de segurança, tal qual um morto muito louco. Pedi para deixar a janela aberta. O motorista evidentemente estava com medo de eu vomitar. Ao chegar ao destino, no bloco do Cruzeiro Novo, desci do carro, agradeci o motorista, que olhou para mim e disse com muita sinceridade nos olhos “se cuida e fica bem, tá?”. Agradeci de novo, dessa vez sem entender tanto o recado e fui para a mais difícil das missões da minha jornada até ali: conseguir abrir o portão de entrada.


Lembra que minha mãe havia me dado um molho com três chaves e o primeiro chefão para se superar era o portão da rua? Pois é. Nessa altura da história, o sol já estava estabelecido no céu e eu, com minha embriaguez de álcool e sono, não queria encarar os raios de luz da manhã. Com os olhos cerrados, mais dormindo do que acordado, tentei abrir o portão de tudo que é jeito, colocando uma chave, invertendo a posição, depois tentando a mesma coisa com a outra chave e com a terceira, até voltar na primeira de novo e recomeçar o processo. Depois de um tempo que pode ter sido 30 segundos ou 30 minutos, um homem que estava saindo do prédio, provavelmente para comprar pão pelo horário, perguntou se eu estava tentando entrar. Eu disse que sim e ele gentilmente abriu passagem para mim.


Passei pelo portão gradeado. A segunda porta, a de vidro do hall de entrada, ainda estava aberta, pois o homem tinha acabado de passar por ela sem ter dado tempo de fechá-la totalmente. Subi as escadas para o andar do apartamento da minha mãe. Quando fui abrir a porta, para minha surpresa, ela já estava aberta. Depois de perder tanto tempo no portão da rua, Deus finalmente começou a me ajudar, pensei.


Entrei pela sala e percebi que minha mãe havia dado uma ajeitada na posição dos móveis. Fui direto para o quarto. Sentei na cama e quando me preparava para deitar, dei uma última olhada em volta antes de me entregar ao sono dos justos. Foi nesta última olhada que percebi que minha mãe também mudou a decoração do quarto durante a noite. Dei uma piscada e... Meu Deus do céu, o quê que eu tô fazendo aqui?! Essa não é a casa da minha mãe! Preciso sair correndo antes que me vejam!


Todo sono e alcoolismo sumiram do meu corpo instantaneamente. Eu havia invadido um domicílio e poderia ser preso caso alguém me encontrasse ali, mesmo não sendo minha culpa, afinal, todos os blocos de prédios naquele setor eram idênticos e existiam sei lá quantos deles. Mas até eu explicar que Jesus não é Genésio... Só agora fazia sentido as chaves não funcionarem nem viradas para cima e nem para baixo. Sai do quarto tentando não fazer barulho, passei pela sala e saí do apartamento mais ligeiro que um peido.

Consegui abrir a porta de vidro do hall pelo lado de dentro com ajuda daqueles botõezinhos instalados na parede do prédio. O problema mesmo estava no portão da rua. Desesperado, vi que para sair de qualquer jeito antes que alguém me visse e eu ser descoberto como um criminoso era pulando o portão.


O portão devia ter uns dois metros e meio de altura, com um apoio que daria para colocar o pé mais ou menos na metade desta altura. O alto do portão era ornado com aqueles espetos virados para cima, que mais pareciam pontas de faca ou de lança. Era um portão, você sabe o que é um portão. Apesar da minha mente estar muito mais acordada do que antes da injeção de adrenalina que tomei ao perceber que estava no apartamento errado, meu corpo não respondia aos meus movimentos como eu gostaria. Tive que me concentrar como nunca antes na vida. Coloquei força nos braços, tomei um impulso forte e consegui escalar um pé na metade do portão e o outro já atravessando para o outro lado. Não dava para eu sentar no topo do portão por causa dos espetos em cima das grades. Fiquei fazendo força com os braços como um ginasta segurando nas alças do cavalo. Mesmo com a pressa, eu precisava me concentrar para passar a perna que estava do lado de dentro para o lado de fora, num calculo de força muito preciso para eu não me lascar nos espetos e não me estrebuchar no chão como uma jaca. O portão já era alto e eu com a minha altura deixava minha cabeça facilmente a mais de três metros do chão. O mundo girava. Respirei fundo e decidir ir no três. Um, dois, TRÊS!


REEEEC!


Aterrissei no chão sem cair, com os dois pés apoiados na calçada. Mesmo assim senti que algo havia se enganchado no portão e se rasgado por completo. Temi pelo pior. Fechei os olhos com medo da verdade e levei a mão para o meu traseiro. O pior não havia acontecido: só minha calça havia se rasgado. Com o menor dos prejuízos possível dado as circunstâncias, segui minha jornada pela rua com a bunda de fora para quem quisesse ver para achar o bendito bloco de prédio que era o da minha mãe. Caminhei de um lado para o outro tentando me lembrar de algo que identificasse o bloco certo. O quê que poderia ser? Uma lanchonete! Tinha uma lanchonete na frente. Andei mais uns cinco minutos e achei a lanchonete com o bendito bloco à sua frente.


Passei pelo portão e pela porta do hall sem dificuldades. Entrei no apartamento e vi que a decoração era a mesma de sempre. Cheguei no quarto, tirei a calça e me deitei na cama do jeito que estava. A cachaça e o sono, que tinham me dado uma trégua, bateram de novo com toda força do mundo e me entreguei. Horas depois, acordo com minha mãe me cutucando.


- Filho, filho... Por que sua calça tá no chão toda rasgada?


Olhei para cara dela, para a calça rasgada no chão e de novo para ela. Pensei em todas as desculpas possíveis, mas meu cérebro ressaqueado não cooperava com a criatividade. Joguei a toalha e respondi:


- Se eu te contasse a senhora não iria acreditar.


Depois de me banhar e tomar café da manhã, sem ter uma história em mente para inventar, optei pela verdade (ela é libertadora!) e contei o que havia acontecido. Minha mãe e o marido dela ouviram tudo um tanto quanto abasbacados.


- Meu filho, aqui na redondeza só tem militar, você poderia tomar um tiro!


- Se te pegassem era capaz de achar que você estava bêbado.


- Eu, bêbado? Imagina...


Na segunda-feira após o ocorrido, o Rocha me perguntou preocupado se eu estava bem, porque ele achava que eu estava completamente detonado pela pingarada. Eu ri e disse que eu era assim mesmo, que eu ficava com muito sono naturalmente, ainda mais quando bebia um pouco além da conta, mas que eu não estava tão destruído quanto parecia, afinal, é preciso ter muita força para fugir de um apartamento invadido pulando um portão alto com espetos na ponta.


A história aqui relatada é realmente verdadeira. Talvez eu tenha omitido alguma coisa por não me lembrar. Às vezes até me pego pensando se não havia alguém dentro do apartamento que invadi, seja no outro quarto, na cozinha, no banheiro ou até mesmo na sala e no quarto que entrei. Me pergunto se simplesmente não consegui ver alguém ali de tão bicado que eu estava. Ou até mesmo se o apartamento não era da pessoa que abriu o portão para mim com tanta boa vontade.


De todo modo, foi assim que tomei um bolo para um evento de cinema, enfiei o pé na jaca da catuaba numa casa cheia de baianos, fui para a festa de aniversário do Caetano Veloso sem Caetano Veloso, invadi um apartamento sem querer e rasguei a calça ao fugir. Até hoje tenho a calça, que mandei para a costureira e usei mais algumas vezes até engordar demais para caber dentro dela, mas ainda tenho esperanças de emagrecer para poder usá-la mais algumas vezes em outras aventuras, de preferência menos arriscadas.

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2 Comments


anna k Lacerda
anna k Lacerda
Jul 23, 2022

Caetano precisa saber dessa história! A calça rasgada foi pra imortalizar a "furada".

Adorei ser conduzida a esse passeio :)


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angelicastro
angelicastro
Aug 28, 2020

Amei?????? Ri muito.

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