Que saudade de você
- Neris Reis
- May 10, 2021
- 2 min read
Que saudade de você.
Faz muito tempo que a gente não se encontra, não é verdade?
As circunstâncias nos afastaram logo quando tudo parecia que ia bem entre a gente, quando parecia que éramos inseparáveis. Na minha cabeça, ouso dizer, éramos feitos um para o outro.
Eu sei que é só um tempo forçado que a gente tá dando, que daqui a pouco a gente volta, que isso acontece nos melhores relacionamentos, mas isso não diminui a minha dor de ficar mais um dia sem te ter, sem te sentir, sem te ver, sem ser parte de você.
Lembra dos nossos encontros? Era quase um ritual que a gente foi aprendendo a construir ao longo de anos e anos. Eu sempre tímido, você sempre imponente em uma grandiosidade que não cabia dentro de si. Você uma entidade única para mim, eu sendo só mais um para você.
Quando nos conhecemos eu ainda era muito novo, imaturo, inexperiente. Já você... É, você entendia bem da arte daquilo que a gente tá pensando.
Não sei se no começo os meus assuntos te agradavam, mas mesmo assim você fazia questão de compartilhar tudo comigo com o mesmo brilho, mesmo que eu soasse infantil.
E com o passar do tempo fui amadurecendo também - também graças a você. Só você tem o talento de me fazer rir e no instante seguinte me fazer chorar e de repente me assustar. E quando parece que já te conheço o bastante, você vai lá e me surpreende.
Talvez os outros com quem você se relacionava te conhecessem mais, melhor e há mais tempo. Talvez eu nunca tenha sido cult o suficiente para você, nem descolado o bastante, muito menos ligado na última moda do momento mais chamativa que, fala a verdade, você adora exibir por aí.
Mas eu não ligo. Porque quando estávamos só nós dois, qualquer assunto se tornava grandioso e praticamente irredutível. Não importa se ficássemos juntos por só duas horas ou algumas outras mais, você me fazia me sentir especial mesmo que a sua atenção, eu sabia, fosse atraída por outros olhares. E se não fosse o bastante, a gente repetia a dose, porque você é incansável.
Você também tinha as suas regras. Você fazia questão de que tudo acontecesse como se fosse a primeira vez, como se já não fôssemos íntimos. Primeiro com a luz baixinha pra gente entrar no clima aos sussurros. Depois no escurinho total pra gente sentir tudo e se concentrar só ali.
A verdade que dói é que nosso relacionamento era abusivo. Exagero meu? Talvez. Ou não. Enquanto você era de todo mundo, eu era egoísta achando que você era só para mim.
Faço aqui mea-culpa: eu só ia atrás de você porque eu desejava esquecer de tudo, esquecer completamente da minha vida. Acontece que você sempre ia além. Quanto mais eu me encontrava com você, mais eu me encontrava, mais eu encontrava vida.
Irônico esse tempo distante não ter fim justo quando o que mais a gente fazia junto era parar o tempo.
Daqui a pouco esse nosso tempo passa. Daqui a pouco a gente se vê.
Que saudade de você, cinema.
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