- Jul 1, 2020
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Updated: Jul 9, 2020
Tinha me preparado para escrever isso na minha estreia como colunista em uma grande plataforma ou jornal, como Folha ou algo assim. Claramente não é isto que está acontecendo agora, o que eu particularmente acho uma pena, muito mais para mim do que para a Folha, claro, meu ego e minha autoestima não estão lá nas alturas. Agora, por que não é para a Folha, podemos analisar. Talvez isso se deve ao fato de eu ser um completo anônimo, um cidadão comum, ordinário, sem grandes talentos natos e relevância e, principalmente, nunca ter feito nada de extraordinário para mostrar ser capaz de algo assim. Resumidamente, a Folha não me conhece.
De toda forma, estou aqui, escrevendo este texto inaugural para a minha coluna (!) no meu site (!!). Em suas devidas proporções, isso é algo grandioso. É um começo e começos são sempre inspiradores, desafiadores e principalmente empolgantes. É como sentir aquele cheirinho de livro novo, de material escolar novo, de... Desculpa, não consegui achar outra boa comparação. Mas vamos continuar antes que você perca a empolgação com este começo épico.
Escrever vai ser minha principal atividade neste espaço. Ainda não decidi plenamente o que terá e como será a frequência, mas me esforçarei para ser pelo menos uma vez por semana, talvez duas, nem que seja um textinho curto, só para dar um alô nos dias que eu não tiver inspirado, mesmo que para ninguém. Outras vezes devo colocar algo grande demais que, aí sim, terei certeza que absolutamente ninguém vai ler. Mas, independentemente do tamanho do texto, convenhamos, publicar textos nos tempos atuais de influencers no Instagram ou dos youtubers (adoro YouTube!) é uma ousadia. Fazer o que se sou vintage? Ter blog no meio de tantas possibilidades mais dinâmicas é a mesma coisa de optar por ter vinil ou câmera fotográfica analógica em tempos digitais. Coisa de hipster.
Já mantive um blog que fiz quando ainda estava no colégio (ou seja, já faz muito tempo!) e ele teve fases – todas de qualidade questionável por sinal, que deixam a minha cara queimando de vergonha só de lembrar. Durante toda a existência do blog tive um total de dois leitores assíduos, com uns outros dois que passavam lá de vez em quando. Os outros deviam ler por minha insistência de mandar o link (assim como para infelicidade de alguns devo continuar fazendo). Mas o tempo passou tanto que acho que até esses leitores assíduos e forçados eu perdi, então, vou precisar ganhar a atenção de novos leitores e reconquistar os antigos.
Devemos estar na metade do texto inaugural e, confesso, estou com medo de não terem chegado nem até aqui, o que é muito provável. A verdade é que escrever é uma atividade muito tediosa, não é para qualquer um, por mais que seja uma das primeiras coisas que aprendemos (ou deveríamos aprender) ao começar nossa vida escolar. Mas não é para qualquer um no sentido de ser uma atividade difícil. Longe disso! Conheço pessoas talentosíssimas, com boas opiniões, habilidade para síntese e para difundir arte e conhecimento em forma de palavras que eu jamais vou alcançar, mas que por alguma razão não param para escrever tanto assim, talvez por serem tão interessantes que o tédio de escrever não as atrai. Para escrever é preciso algum tipo de insistência, que é o que estou fazendo agora, mesmo quando a inspiração não vem.
Onde parei? Ah, sim, no tédio! Por favor, se você já saiu da página (o que tenho certeza que fez) e acabou voltando para dar mais uma chance para o meu texto inaugural, tentarei não te entediar ainda mais. Prometo que estou indo para a reta final. Ou não. Eu que mando aqui. Mas sou democrata e como ainda não nos conhecemos, quero fazer com que você, enquanto meu convidadx de honra, se sinta bem (repararam no "convidadx"? moderno, né?!). Não, eu não mando aqui. Nós mandamos aqui. Meu Deus, estou perdendo o foco...
Bom. Sem mais rodeios de delongas, acho que seria melhor eu pelo menos me apresentar. Para os meus amigos que conheci no colégio, na faculdade e nos trabalhos que tive, fiquei conhecido como Anderson por esse ser de fato o meu primeiro nome e o que aparece nas listas de chamada. Já minha família me conhece por Rafael, que é meu segundo nome, mas é como se fosse o primeiro para eles e que acaba sendo um nome para alguns íntimos (alguns primos nem sabem que me chamo Anderson). Por fim, vêm o Neris da família da minha mãe e o Reis da família do meu pai. No meio disso tudo tem um Lima meio perdido que acabou caindo em desuso. Pela dúvida em como me apresentar, vou deixar que você escolha e vou usar Neris Reis no nome do site, por ser o meu arroba no Instagram e por parecer uma forma mais profissional e adulta de me apresentar, quase um nome artístico, além de uma bonita homenagem, não é não? Isso não é legal?! Não, é tosco, mas na dúvida, tá aí. Se eu fosse ministro do STF, sem dúvidas seria normal e imponente.
Caso esse espaço fosse o espaço de colunistas da Folha como meus ídolos das palavras colunísticas como Calligaris, Gregório Duvivier, Fernanda Torres, Daniel Furlan, Pondé, Tostão, Ruy Castro, PVC e tantos outros, minha apresentação teria que vir com predicados como “Neris Reis é publicitário, cineasta, roteirista, cozinheiro e viajou os cinco continentes tendo três livros publicados, dois Oscars e um Nobel da Paz”. É bem verdade que sou formado em publicidade e dediquei um bom tempo da minha história recente com isso, mas de resto... Ainda há tempo de tirar os roteiros e ideias do papel, fazer filmes, ganhar Oscar, escrever livros e viajar o mundo, tudo isso enquanto faço deliciosos pratos instagramáveis e propago a paz no mundo tal qual John Lennon. Mas no momento não tenho nada disso e não sou nada disso, nem sequer sou publicitário neste momento. Sou apenas mais um desempregado brasileiro, um freelancer PJtinha, vítima desta pandemia em um nível bem baixo, é verdade, perto da calamidade global. Porém, o que me impede de ser? O que te impede de ser?
E aqui estamos. Depois de tanto ensaiar escrever este texto (antes queria ter escrito no meu recesso no fim do ano passado, depois nas minhas férias, depois no início da “quarentena” entre aspas porque no Brasil não podemos chamar isso de quarentena, mas falo disso outra hora) e fazer um espaço para publicá-lo, estamos na reta final do meu texto inaugural. Tentando ser otimista, espero que este começo seja inspirador, não só para mim, mas para alguém, quem sabe. O mundo vai precisar de novos começos neste momento de caos, com muita criatividade e resiliência (será que tô falando isso para mim mesmo ou para você?). Publicarei crônicas, contos, talvez poemas e cartas de amor, por que não? Falarei também de assuntos atuais ou sobre música, ainda não sei o que vai me fazer ter devaneios. Também pretendo trazer muita paixão, mas tentarei evitar falar de Fluminense, para não despertar ódio ou indiferença das pessoas que não são apaixonadas pelo Fluminense, coitadas dessas pessoas – porém, não posso prometer nada. E é claro que abusarei do meu recurso favorito: a ironia. Meu medo é que esse seja um caminho fácil e perigoso, ou seria preguiçoso? Será que vão me entender? E se não entenderem, quer dizer que fracassei ou mandei bem? E já vai perdoando os erros de digitação e falta de revisão, meu corpo não acompanha a velocidade da minha cabeça e acabo não percebendo o que está errado, além de aqui não ser a Folha, portanto, não tenho revisores.
Com tanta coisa, vai que um dia isso fica bom o suficiente para eu ser chamado para ser colunista da Folha ou isso vire uma coletânea para um livro? Provavelmente não, mas até lá, só espero que você volte sempre e que de alguma forma eu tenha te cativado para fazer você chegar ao ponto final que chegará em três, dois, um.